20 de julho de 2010

sometimes

Às vezes é preciso aprender a perder, a ouvir e não responder, a esconder o que mais queremos mostrar, a dar sem receber e sem cobrar. Às vezes é preciso respirar fundo e esperar que o tempo nos indique o momento certo e então alinhar as ideias, usar a cabeça e esquecer o coração, dizer tudo o que se tem para dizer, não ter medo de dizer não, não esquecer nenhuma ideia, nenhum pormenor, deixar tudo bem claro para que não restem dúvidas e não duvidar nunca daquilo que estamos a fazer. E mesmo que a voz trema por dentro, há que fazê-la sair firme e serena, e mesmo que se oiça o coração bater desordeiramente fora do peito é preciso acalmá-lo, ordenar-lhe que bata mais devagar, e esperar, esperar que ele obedeça, que se esqueça, apagar-lhe a memória, o desejo, a saudade, a vontade. Às vezes, é preciso partir antes do tempo, dizer aquilo que mais se teme dizer, limpar a alma e prepará-la para um futuro incerto, acreditar que esse futuro é bom e afinal já está perto. Pensar que o tempo está a nosso favor, que a vontade de mudar é sempre mais forte, que o destino e as circunstâncias se encarregarão de atenuar a nossa dor e de a transformar numa recordação fechada num passado sem retorno que teve o seu tempo e a sua época e que um dia também teve o seu fim. Às vezes mais vale desistir do que insistir, esquecer do que querer, anular do que desejar. No ar ficará para sempre a dúvida se fizemos bem, mas pelo menos fizemos aquilo que devia ser feito. Somos outra vez donos da nossa vida e tudo é outra vez mais fácil, mais simples, mais leve, melhor. Às vezes é preciso mudar o que parece não ter solução, deitar tudo a baixo para voltar a construir do zero, bater com a porta e apanhar o último comboio no derradeiro momento e sem olhar para trás, queimar cartas e fotografias, esquecer a voz e o cheiro, as mãos e a cor da pele, apagar a memória sem medo de a perder para sempre, esquecer tudo, cada momento, cada minuto, cada passo e cada palavra, cada promessa e cada desilusão. Às vezes é preciso saber não aceitar, não cooperar, não ouvir nem contemporizar, não pedir nem dar, não aceitar sem participar, sair pela porta da frente sem a fechar, pedir silêncio, sem dor, sem tristeza e sem medo. E partir para outro mundo, para outro lugar, mesmo quando o que mais queremos é ficar, construir, investir, amar. Porque quem parte é quem sabe para onde vai, quem escolhe o seu caminho e mesmo que ele não esteja traçado. Quem fica, fica a ver, a pensar, a meditar, a lembrar. Até se conformar e um dia então esquecer.

eu não vou deixar de te amar.

1 comentário: